domingo, 18 de maio de 2008

berlim, 1989

"Um cavalheiro lança-se diretamente ao seu objetivo, como um touro enfurecido, abaixando os chifres, e talvez só um muro possa detê-lo. Aliás, diante de tal muro, tais cavalheiros, ou seja, os indivíduos e homens de ação "diretos", se dão por vencidos e nisso são sinceros. Para eles, o muro não significa desvio, como, por exemplo, para nós, seres pensantes e, conseqüentemente, inertes; não é um pretexto para voltar atrás, pretexto que pessoas como nós geralmente não acreditam, mas que sempre ficam muito felizes quando o encontram. Não, é com toda sinceridade que eles se dão por vencidos. O muro possui para eles algo que acalma, que soluciona a situação do ponto de vista moral, e é definitivo."
Fiódor Mikháilovitch Dostoiévski em Notas do Subterrâneo


Não sei quanto aos outros, mas me recuso a tentar decifrar o pensamento do escritor, do poeta. O que podia ser a realidade em um momento, em outro, pode ser a contradição do próprio. Cada um vê de uma forma o cavalheiro-touro, os chifres, o nós-seres-pensantes, o muro. É claro que a troca de informação, de interpretação, de entendimento é importante. Importante para que consigamos pensar de várias maneiras, enxergar tudo de forma mais clara. Mas a verdade de cada um é a que realmente importa. E, a quem interessar, a minha é a que se segue. A do cavalheiro-touro que não tem paciência e que procura, por meio de seus chifres, atingir seu objetivo de forma rápida e eficaz. A do nós-seres-pensantes que nem sempre pensamos e que, algumas vezes erramos de forma que não se pode mais corrigir. A do muro, de concreto, sólido, alto, impossível de ser ultrapassado. Não sei se sou o cavalheiro ou o ser pensante, nem se tenho um muro à minha frente. Não sei se o desejo para, quem sabe, prever o futuro e acabar de vez com essa apreensão infindável. O que não posso é, sem dúvida, ignorá-lo. Não. O muro é vistoso demais para isso.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

segredo?

Acho que é só com a esperança, ou fé, ou o que quer que vocês queiram chamar isso, que se consegue adiar o sofrimento. Sim, acho. Não tenho certeza sobre nada, não sei nenhuma verdade. O grande problema é: será que, depois, esse sentimento ruim que não conseguimos explicar direito não se torna maior, não cresce com o fermento do tempo, quando nos decepcionamos novamente? Será que vale a pena tudo isso, ter fé, esperança? Há quem acredite n’O Segredo. Eu mesmo, não li, não vi o filme e nem nada a respeito. Tudo o que eu sei são informações, interpretações de conhecidos. Ficar imaginando o que você deseja, o que você realmente quer. Claro que não acontecerá se não houver esforço algum para que aconteça. Mesmo assim, acho que, às vezes, o bom mesmo é ser pessimista, acreditar que o pior vai acontecer e pronto. Assim não tem como piorar, ao menos. É nessas horas que o que eu penso difere do que eu sinto. Nunca consigo acreditar no pior. Sempre acho que existe alguma saída, alguma salvação. Nem sempre tem. Coisas ruins acontecem à nossa volta, mas nunca achamos que vão acontecer conosco. Acontecem. Temos que aprender a lidar com elas à nossa maneira, e não enxertar uma idéia de um livro ou filme qualquer. Agora, alguns devem estar pensando: “isso está errado, não existe um único ser humano livre de influências”. Não, não existe. Concordo plenamente, mas antes de tudo, devemos sentir. E não acredito que sentimentos possam ser influenciados de uma maneira sadia. Agora, outros devem estar pensando que sou, no mínimo, contraditório. Se sou, não sei. Mas é como me sinto.

terça-feira, 13 de maio de 2008

minhas pernas curtas

Mentir é necessário. Quase sempre. O que você precisa é mentir para si mesmo. Pronto, já está preparado para enganar o mundo. O difícil não é tentar, mas conseguir. Difícil, pois uma máscara esconde apenas a expressão e não as idéias. Muito menos os sentimentos. Tudo o que precisamos é de um pouco de ilusão e buscar acreditar. Basta repetir várias vezes para si mesmo. Quem sabe como o tempo, você esquece que não é verdade e passa a viver uma farsa. Não que isso seja certo, longe disso. Mas afinal, o que é certo? Fazemos tantas coisas erradas e não vejo o motivo de implicar tanto com a mentira. Afinal de contas, ela é necessária. Conheço uma pessoa que é muito próxima e que percebe uma mentira no ar com uma facilidade inacreditável. Com certeza ela não concorda comigo, nem com esses escritos. Conseqüentemente, estou plenamente equivocado para ela, e para tantas outras. Mas o que posso fazer se é nisso que acredito? Quem sabe até isso já é uma mentira que eu criei faz tempo. Já não posso mais dizer. Pois termino dizendo a ela, que procure me entender. E mesmo que não consiga, que ao menos siga o ditado. Pois as pessoas devem ser amadas quando elas menos merecem, justamente por ser esse o momento que elas mais precisam.