"Um cavalheiro lança-se diretamente ao seu objetivo, como um touro enfurecido, abaixando os chifres, e talvez só um muro possa detê-lo. Aliás, diante de tal muro, tais cavalheiros, ou seja, os indivíduos e homens de ação "diretos", se dão por vencidos e nisso são sinceros. Para eles, o muro não significa desvio, como, por exemplo, para nós, seres pensantes e, conseqüentemente, inertes; não é um pretexto para voltar atrás, pretexto que pessoas como nós geralmente não acreditam, mas que sempre ficam muito felizes quando o encontram. Não, é com toda sinceridade que eles se dão por vencidos. O muro possui para eles algo que acalma, que soluciona a situação do ponto de vista moral, e é definitivo."
Fiódor Mikháilovitch Dostoiévski em Notas do Subterrâneo
Não sei quanto aos outros, mas me recuso a tentar decifrar o pensamento do escritor, do poeta. O que podia ser a realidade em um momento, em outro, pode ser a contradição do próprio. Cada um vê de uma forma o cavalheiro-touro, os chifres, o nós-seres-pensantes, o muro. É claro que a troca de informação, de interpretação, de entendimento é importante. Importante para que consigamos pensar de várias maneiras, enxergar tudo de forma mais clara. Mas a verdade de cada um é a que realmente importa. E, a quem interessar, a minha é a que se segue. A do cavalheiro-touro que não tem paciência e que procura, por meio de seus chifres, atingir seu objetivo de forma rápida e eficaz. A do nós-seres-pensantes que nem sempre pensamos e que, algumas vezes erramos de forma que não se pode mais corrigir. A do muro, de concreto, sólido, alto, impossível de ser ultrapassado. Não sei se sou o cavalheiro ou o ser pensante, nem se tenho um muro à minha frente. Não sei se o desejo para, quem sabe, prever o futuro e acabar de vez com essa apreensão infindável. O que não posso é, sem dúvida, ignorá-lo. Não. O muro é vistoso demais para isso.
2 comentários:
"Não sei quanto aos outros, mas me recuso a tentar decifrar o pensamento do escritor, do poeta." vc diz isso, depois vai e decifra. é inegável a sensação de graça quando as pessoas recusam-se a fazer o que eu faço como ganha pão e fazem-no, sem a menor percepção.
agilisa ai, broder, tô chegando no seu numero de posts!
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