quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Do porquê eu não consigo dizer que te amo


Eu nunca na minha vida podia imaginar que ela estaria exatamente assim hoje. E só tem um motivo. É sempre um motivo que leva a outro e outro e mais outro. É a origem de tudo, dentro do caos, que faz as coisas estarem na mais perfeita sintonia agora. É engraçado pensar que já estudei isso em filosofia: Condillac chama essa causa inicial de Deus. Pra mim faz muito sentido, já que cada um tem para si mesmo esse início de tudo.

Lá atrás, no tempo em que jamais pensava em me apaixonar desse jeito por alguém, pensei que queria fazer faculdade de jornalismo. Estudei para entrar numa universidade pública, mas não consegui. Passei mais um ano, acreditando que serviria para isso e não serviu. Não estava me sentindo mal ou incapaz. Mas também não imaginava que me traria aonde estou. Talvez por isso não estava triste naquela época. Conheci pessoas e me senti muitas coisas por várias mulheres desde aquela época. Tudo por ter decidido fazer faculdade de jornalismo, me parece.

Acreditei no amor, na cumplicidade e quase em pensar num futuro que nunca ia acontecer. E não aconteceu, por isso estou aqui. Sofri meus pequenos e grandes dramas pensando que as coisas aconteciam por um motivo. E as coisas começam a fazer cada vez mais sentido. Comecei a me apaixonar cada vez mais por qualquer produção audiovisual e decidi gravar aquele documentário. Você, na sua trilha que eu ainda pouco sei e que me esforço a cada dia mais pra tentar te conhecer por inteira, foi ensaiando passos com seu jeito único de ser. E esse certo deus é o motivo. O motivo que nos juntou naquela quadra de colégio em que a gente trocou os primeiros olhares. Nem que fosse com uma câmera entre eles, pra evitar uma boba timidez que eu tinha. Esse mesmo motivo me levou pra longe e nem isso impediu a gente se conhecer melhor. Pelo contrário, pode até ter ajudado, como a gente já comentou.
 
Mas aonde a gente chegou agora, tão longe, já não importa a distância física ou temporal. Eu sinto que estou mais junto de você que nunca e não vão ser muitos quilômetros ou compromissos que vão conseguir nos separar. Eu estou em você agora, e você em mim. É difícil sentir tanto pra poder pensar. Mas não tem como não pensar. Você está em mim em emoção, em razão, com razão. E só penso em como poder te fazer bem, te ver feliz e querer que suas coisas saiam certo pra que você se sinta mais realizada dentro de você mesma. Eu admiro cada palavra que sai da sua boca como uma obra de arte que me encanta. Cada parte do seu corpo como se fosse extensão do meu. E cada propriedade sua como se fosse lei universal.
 
Todas as poucas vezes que a gente se encontrou, trocou olhares, carícias e salivas, foram incríveis. Eu digo poucas só por querer que fossem mais. E cada vez mais eu não consigo dizer que te amo. Porque não é igual a nada que eu vivi ou experienciei. Você é uma dádiva nova que eu tenho que aprender. Não entender e muito menos conseguir nomear todos esses sentimentos que estão em mim e transbordam pra alcançar você não me faz sentir mal; pelo contrário. Aí sim, dá pra dizer que eu amo isso. Na minha própria e única concepção de amor que eu nunca vou conseguir explicar.
 
A língua tem esse problema de unir enquanto separa. Mas ficar do teu lado, não. É por isso que eu quero cada vez mais você do meu lado, pra eu conseguir te sentir e me expressar, demonstrar essa maravilha que a gente criou juntos. E que a cada dia tem um tijolinho a mais, pronto pra engrandecer isso tudo mais ainda. Cada dia quero te sentir, te respirar e ter a experiência de completar uma coisa contigo. Pra daí a gente poder aprender juntos uma língua nova, que a gente não entende direito o que quer dizer cada coisa. E não vai importar a palavra que a gente use, vai nomear exatamente o que a gente sente. E isso é importante. Nessa língua que a gente não conhece o sentido literal das palavras, a gente pode falar um pro outro o que só os nossos corpos e mentes entendem: Je t’aime, mon amour.

domingo, 19 de agosto de 2012

um rosto meu


Com a luz do espelho, ele se encara. Os olhos de calmaria sonolenta apontam para os cachos, nem tão longos e nem tão curtos, que se abraçam circularmente, despencando à procura de companhia. Eles conseguem tocar somente o início da testa, na qual repousa uma despreocupada e mínima ruga que, de tão superficial, parece nunca querer feri-la.
Dentre as travessas memórias do rosto, dos tempos de criança, vale mencionar a fenda horizontal abaixo do globo esquerdo e o borrão cicatrizado no canto da boca. Desenham o pouco do rosto que não é envolvido pela nuvem negra e indolente de pêlos. A unidade do conjunto escuro dava-lhe a sensação de personalidade própria. Uma elegância deselegante que atraía alguns do mesmo modo que repelia outros. O bigode, comprido como o de Dali, por vezes montava na boca, dominando-a.
O rosto foge do estático enquanto se observa. Esta é a parte que ele mais gosta. Uma cara sorridente esboçou uma certa preguiça acomodada. A boca se mexia artisticamente para esconder seu interior ao moldar as palavras imprecisas e vagas que soltava de vez em quando.
São apenas três, as pintas no conjunto todo. Duas estão dos lados, onde cada orelha surpreende seu macio lóbulo, lembrando-os de que ali poderiam perfeitamente estar as carinhosas e sensíveis joias de uma dama. A outra é uma perturbada ermitã na superfície reta do nariz. E digo que era tão solitária, que se fosse personagem de livro iria ser confundida com D.Quixote enquanto dava cambalhotas, nu, em seu retiro na Serra Morena.
Por fim, restou a região mais difícil. Os pêlos sobre os olhos formavam uma ponte quase completa, a não ser por alguns fios que faltavam. Mas com cara de bravo, qualquer um poderia se aventurar a passar por ali. Agora, os espiões, que mais enxergam que são enxergados, passavam a sensação de que evitavam a eles mesmos. Eram escorregadios, procurando se esconder atrás de uma muralha de pálpebras de pedra, que o rapaz lutava para não prevalecerem. Vencedoras, apagou a luz e foi dormir.

sábado, 11 de agosto de 2012

Lembrancinha boa

Em um dia sem sol não se faz milagre. Mesmo com as coisas certas num lugar certo, não se faz milagre. Depois de uma chuva, então, nem se fale. A grama molhada e nossos olhos buscando meio sem esperança um lugar pra poder ficar. E você nunca me ajudava a escolher. Hahaha, não me ajudava mesmo. Deixava o peso de uma decisão simples nas mãos trêmulas desse indeciso. A dúvida nem era tanta, mas por querer te agradar tentava entrar na tua mente e decifrar teu pensamento pra ver se não estaria de perguntando: "Que!? Isso?!" E por isso te explico agora, por isso sempre demorava.

Bom, de qualquer forma, nosso piso foi um deserto aslfatado e nossa grama um banco marrom, de madeira lustrada. O vento, depois de uma pequena trégua, volta pra tentar cortar a gente no meio. E o sol fraquinho lá no seu mundinho, tímido, em seu próprio jogo de esconder. Uma única esperança, frágil, de que o dia podia ser bom era aquela garrafa ter dentro dela um vinho, no mínimo, razoável. "Hm, nada mal." E aí, de gole em gole, de trago em trago, até que nos esquentou um pouco por fora.

Esse vinho e o pão e a geléia de amora e todas as coisas coisas que a gente levou pra nos ajudar, travaram uma batalha silenciosa pela nossa diversão. Lutavam com o que tinham contra o dia cinza, frio e úmido. Foi um massacre. É claro que essas mínimas coisas, contra uma imensidão de céu e ar, anciãos, que já viram o dia e a noite tantas vezes, não tinham nem um fiapo de chance. Aquele pão, coitado - ou o que sobrou dele - já estava praticamente incomível. O dia tinha sido duro com ele.

Tinha tudo pra dar errado, não é? Mas com a gente pra poder rir disso tudo e esquecer o entorno, era possível. Eu nem lembro de dia frio, na verdade. Tudo que eu escrevi foi uma coisa um pouco inventada de um sonho que eu tive. Me lembro, sim, de um dia com o sol lá em cima, tão forte que a gente teve que se encostar em uma árvore e pedir licença pra usar sua sombra. A gente deitava na grama, olhando pras folhas balançando com um vento aconchegante, lembra? E aí tocava qualquer música que nos fazia viajar por aqui e ali e voltar em poucos minutos pra realidade.

A verdade é que nesse momento o ambiente já estava perfeito pra ser usado como tinha que ser. E a gente se aproveitou da situação pra criar mais um dia marcante nesse pequeno grande fragmento de memória que agora me abraça sempre pra eu te querer. Ah, e tinham mais algumas coisas, mas eu nem lembro direito, já estou ficando com sono.

Ah! Claro! Depois disso a gente tinha um encontro. Pegamos um ônibus que parou fora do ponto só porque a gente pediu. E ele foi direto, cortando as ruas sem trânsito até o nosso destino. Boa noite!

segunda-feira, 2 de julho de 2012

poeminha traduzido do espanhol


Voávamos a céu aberto brincando e pulando de nuvem e nuvem.
O outono já era frio e com o seu calor e cuidado
percebi que era você.

Há muito tempo já sonhava, sempre essa imagen,
esculpida em mente e alma,
asas e imaginação

Fugimos um do outro até o desejo ganhar, vibrante.
Todo resto tornavasse nada mais que resto,
enquanto dois eram um.

E depois de muito acreditar nesse sonho,
de me encantar ainda mais,
acordei.

E nada mais existia, tudo era como uma brincadeira de mal gosto,
que me dava vontade de voltar praquele dia de chuva,
onde nos abrigamos em uma árvore colorida.

Não tenho mais a chuva, ou você, ou asas, ou nada.
Uma solidão amarga e escura me sacode.
Já não era mais o mesmo e nunca seria.

Até que outro dia te vi na rua, mesmo acordado.
Não precisamos mais de chuva para ficarmos juntos
mas sim um dia de sol, um lindo dia pra você segurar na minha mão
e com um abraço, sucitar o inevitável

segunda-feira, 11 de junho de 2012

depois de dois ou duas


salágua se fundem em um dia cinzhá
incerteza de ter ou não frioeinabilidade
de expreção principaumente