Em um dia sem sol não se faz milagre. Mesmo com as coisas certas num
lugar certo, não se faz milagre. Depois de uma chuva, então, nem se
fale. A grama molhada e nossos olhos buscando meio sem esperança um
lugar pra poder ficar. E você nunca me ajudava a escolher. Hahaha, não
me ajudava mesmo. Deixava o peso de uma decisão simples nas mãos
trêmulas desse indeciso. A dúvida nem era tanta, mas por querer te
agradar tentava entrar na tua mente e decifrar teu pensamento pra ver se
não estaria de perguntando: "Que!? Isso?!" E por isso te explico agora,
por isso sempre demorava.
Bom, de qualquer forma, nosso piso foi um deserto aslfatado e nossa
grama um banco marrom, de madeira lustrada. O vento, depois de uma
pequena trégua, volta pra tentar cortar a gente no meio. E o sol
fraquinho lá no seu mundinho, tímido, em seu próprio jogo de esconder.
Uma única esperança, frágil, de que o dia podia ser bom era aquela
garrafa ter dentro dela um vinho, no mínimo, razoável. "Hm, nada mal." E
aí, de gole em gole, de trago em trago, até que nos esquentou um pouco
por fora.
Esse vinho e o pão e a geléia de amora e todas as coisas coisas que a
gente levou pra nos ajudar, travaram uma batalha silenciosa pela nossa
diversão. Lutavam com o que tinham contra o dia cinza, frio e úmido. Foi
um massacre. É claro que essas mínimas coisas, contra uma imensidão de
céu e ar, anciãos, que já viram o dia e a noite tantas vezes, não tinham
nem um fiapo de chance. Aquele pão, coitado - ou o que sobrou dele - já
estava praticamente incomível. O dia tinha sido duro com ele.
Tinha tudo pra dar errado, não é? Mas com a gente pra poder rir disso
tudo e esquecer o entorno, era possível. Eu nem lembro de dia frio, na
verdade. Tudo que eu escrevi foi uma coisa um pouco inventada de um
sonho que eu tive. Me lembro, sim, de um dia com o sol lá em cima, tão
forte que a gente teve que se encostar em uma árvore e pedir licença pra
usar sua sombra. A gente deitava na grama, olhando pras folhas
balançando com um vento aconchegante, lembra? E aí tocava qualquer música que nos fazia viajar por aqui e ali e voltar em poucos minutos pra realidade.
A verdade é que nesse momento o ambiente já estava perfeito pra ser
usado como tinha que ser. E a gente se aproveitou da situação pra criar
mais um dia marcante nesse pequeno grande fragmento de memória que agora
me abraça sempre pra eu te querer. Ah, e tinham mais algumas coisas,
mas eu nem lembro direito, já estou ficando com sono.
Ah! Claro! Depois disso a gente tinha um encontro. Pegamos um ônibus que
parou fora do ponto só porque a gente pediu. E ele foi direto, cortando
as ruas sem trânsito até o nosso destino. Boa noite!
sábado, 11 de agosto de 2012
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário