sábado, 11 de agosto de 2012

Lembrancinha boa

Em um dia sem sol não se faz milagre. Mesmo com as coisas certas num lugar certo, não se faz milagre. Depois de uma chuva, então, nem se fale. A grama molhada e nossos olhos buscando meio sem esperança um lugar pra poder ficar. E você nunca me ajudava a escolher. Hahaha, não me ajudava mesmo. Deixava o peso de uma decisão simples nas mãos trêmulas desse indeciso. A dúvida nem era tanta, mas por querer te agradar tentava entrar na tua mente e decifrar teu pensamento pra ver se não estaria de perguntando: "Que!? Isso?!" E por isso te explico agora, por isso sempre demorava.

Bom, de qualquer forma, nosso piso foi um deserto aslfatado e nossa grama um banco marrom, de madeira lustrada. O vento, depois de uma pequena trégua, volta pra tentar cortar a gente no meio. E o sol fraquinho lá no seu mundinho, tímido, em seu próprio jogo de esconder. Uma única esperança, frágil, de que o dia podia ser bom era aquela garrafa ter dentro dela um vinho, no mínimo, razoável. "Hm, nada mal." E aí, de gole em gole, de trago em trago, até que nos esquentou um pouco por fora.

Esse vinho e o pão e a geléia de amora e todas as coisas coisas que a gente levou pra nos ajudar, travaram uma batalha silenciosa pela nossa diversão. Lutavam com o que tinham contra o dia cinza, frio e úmido. Foi um massacre. É claro que essas mínimas coisas, contra uma imensidão de céu e ar, anciãos, que já viram o dia e a noite tantas vezes, não tinham nem um fiapo de chance. Aquele pão, coitado - ou o que sobrou dele - já estava praticamente incomível. O dia tinha sido duro com ele.

Tinha tudo pra dar errado, não é? Mas com a gente pra poder rir disso tudo e esquecer o entorno, era possível. Eu nem lembro de dia frio, na verdade. Tudo que eu escrevi foi uma coisa um pouco inventada de um sonho que eu tive. Me lembro, sim, de um dia com o sol lá em cima, tão forte que a gente teve que se encostar em uma árvore e pedir licença pra usar sua sombra. A gente deitava na grama, olhando pras folhas balançando com um vento aconchegante, lembra? E aí tocava qualquer música que nos fazia viajar por aqui e ali e voltar em poucos minutos pra realidade.

A verdade é que nesse momento o ambiente já estava perfeito pra ser usado como tinha que ser. E a gente se aproveitou da situação pra criar mais um dia marcante nesse pequeno grande fragmento de memória que agora me abraça sempre pra eu te querer. Ah, e tinham mais algumas coisas, mas eu nem lembro direito, já estou ficando com sono.

Ah! Claro! Depois disso a gente tinha um encontro. Pegamos um ônibus que parou fora do ponto só porque a gente pediu. E ele foi direto, cortando as ruas sem trânsito até o nosso destino. Boa noite!

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