quarta-feira, 22 de abril de 2009

(Um outro) funeral para o coelho branco

Verde.

Verde.

Verde.

Branco e preto.

Ou roxo, tanto faz.

Foda-se.

A mediocridade reina.

As pessoas se agarram no primeiro tronco que bóia no rio repleto de merda.

Acontece que a merda toda também flutua e tudo fica muito perto.

Mal dá pra respirar naquele ar nojento.

Será que mergulhar ajuda em alguma coisa?

Às vezes nem adianta tentar fazer algo.

É só esperar pararem de jogar a porra do esgoto onde todo mundo nada.

O pior é quando a gente não sabe nem quem tá fazendo isso.

Não sabe só por que o filha da puta se esconde num bueiro ou qualquer outro lugar sujo.

Deve até morar num lugar assim, rato miserável.

Isso tudo me lembrou o Altro, o Caulfield e aqueles velhos tempos.

Eu achava que tinha problemas.

Muleque idiota.

Hoje em dia pode ser a mesma coisa: amanhã olho pra trás e penso algo do tipo.

Muleque idiota.

Lembro até do que ele falou da mulher peituda.

E daquilo que ele falou que era o oposto de café.

Eu só quero o gosto do café amargo na minha boca pra poder pensar em outra coisa.

Mas nem sei se consigo.

Nem sei se devo.

Só estou vestindo a carapuça.

Tiro assim que ficar de saco cheio.

Fácil assim.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

lembranças de hoje

As pernas amarravam-se como se nunca mais fossem se soltar. Aquele nó movia-se com graça e harmonia. Suas peles tentavam se tornar uma só. Por mais que sua relação fosse explicitamente sincera, seus sentimentos não o eram. Ele, sem conseguir entender a si mesmo, permanecia com a situação conservada em um vidrinho de formol. Ela, que tentava entender tudo aquilo que estava se passando, corria, confusa, em um carrossel sem montaria. Como dois amantes agiam.

Somente naquela noite, porém, não iriam se amar, como dizem por aí.

Por mais que ambos tentassem se expressar, isso não bastava para continuarem ali. Qualquer um que olhasse para aqueles dois veria através de seus sentimentos transparentes algo maior que o amor. O casal já tinha percebido isso faz tempo. Talvez fosse isso que fizesse com que continuassem felizes com tudo e, portanto, permanecessem imóveis.

Essa era sua bênção e sua sina.

Mal sabiam eles, que daí alguns dias iriam dançar juntos na chuva e algo iria mudar. Engraçado dizer isso, já que com música começaram a relacionar-se. Mesmo assim, nesse dia era como se essa chuva, desafinadamente acolhedora, fosse outra música para os dois. Música, esta, que não sabiam dançar; finalmente o improviso guiou seus pés. Mal sabiam eles, que isso marcaria o fim dessa história – ou melhor, de um capítulo dela – para algo totalmente novo tomar seu lugar.

E era exatamente isso que os dois precisavam.