terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Ludo-cidade

Como em um lance de dados, tudo muda com a sorte. Apenas um giro a mais na roleta, uma casa a mais no caça níquel: tudo muda. Tudo como um jogo. Parte da vida o é, afinal. Coringas e damas andando em carros e reis em comunidades, cada um com seu próprio naipe, distintas personalidades. Espadas e porretes dançando como se cada um defendesse seu próprio interesse se confundem com nossas discussões diárias. Os copos, quase sempre levantados, repousam nas mesas, vazios, enquanto o ouro nos abandona. Embaralhando as cartas, conhecemos novas pessoas, novos lugares. O acaso, colorido e translúcido - de formas variadas - nos proporciona a imprevisibilidade já esperada.

Com uma jogada bem feita, colocamos em xeque alguns reis, problemas de nossa realidade. São coisas que já não dependem de nada, a não ser eu e você - ou todos nós. As relações, estratégias e técnicas são, sim, necessárias. Muitas coisas acontecem somente, única e exclusivamente, pela ação tomada anteriormente. Sem fatores externos, sem mistérios. Nem sempre acontecem do jeito esperado mas, sem dúvida, de uma forma ou outra, foram frutos de uma escolha.

Agora, o que tento é imaginar como esses dois extremos unem-se em nossas vidas. A emoção e a razão, a sorte e a destreza, misturadas, formam tudo o que conheço. Unidas, compuseram tudo o que lembro e até o que ainda não passei. O que preciso, agora e sempre? Tomar as decisões de forma coerente e talvez, com alguma pitada de sorte, conseguir aproveitar tudo sem preocupação do que está acontecendo ou do que ainda há de vir.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

O que é Jodorowsky?

Assistam antes: The Holy Mountain - um comentário de um leigo, sem pesquisa alguma, apontando algumas impressões momentâneas

Religião, Sexo, Cultura, Comportamento, Inovação.

Tudo em uma montanha russa, indo de cima para baixo, para os lados, acelerando e brecando bruscamente. Tudo misturando em um grande caldeirão, formando uma receita um tanto doce, amarga, picante e azeda ao mesmo tempo. O que seria aquilo? Como o mundo recebeu tudo isso em 1973?

35 anos depois e ainda há um impacto enorme nos espectadores: The Holy Mountain, em português A Montanha Sagrada de Alejandro Jodorowsky. Será que todas as cenas, costuradas de maneira cirúrgica, com precisão, devem fazer sentido? Temos que abrir a mente ainda mais para desvendar todos os mistérios?

A negação da religião se dá pelo apedrejamento de um Cristo? Suas cópias podem ser vendidas, mas o que acontece com o original? Alguém realmente o conhece? Talvez nem ele mesmo consiga se explicar; talvez ele coma seu próprio rosto.

O que seria a humanidade? Um bando de sapos e lagartos? Cruz e espada aliados, confundidos com divindades, invadindo, matando, explodindo, escravizando um novo continente? A semelhança dos animais com nós mesmos é explícita.

"Você é um excremento", diz o Alquimista. Na verdade ele diz isso para todos nós. Somos todos excrementos. Mesmo assim, podemos nos transformar em ouro. Mas afinal, de que vale o ouro? O ouro seria o que gostaríamos de ser? Alguns desejos, sonhos, talvez. Ou apenas a merda seja aquilo que não queremos ser, que rejeitamos.

A beleza é padronizada; criação de um cego, surdo, mudo. Cada um tenta a unicidade por meios iguais. Todos acabam se tornando um mesmo rosto bonitinho, mesmo que cada um seja único. É uma tentativa de enganação. É disso que uma sociedade precisa para ser feliz, para se valorizar?

Jatos de tinta vermelhos lançados ao ar. Mangueiras apontam para os indefesos e logo depois, estão eles agonizando, ao chão, manchados. Os pássaros voam de dentro das vítimas. Seriam as almas?

Nem fazendo milagres, Jesus conseguiu salvar a humanidade? Vários pães, multiplicados: as crianças lutam para agarrá-los. Então o que resta de nós? Apenas a ganância, mesmo demonstrada por crianças, símbolo de pureza e ingenuidade?

O sexo não é tabu. Sexualidade destilada. Até a montanha provoca um orgasmo.

Ao tentar nos aproximar da perfeição, das divindades, apenas estamos nos tornando mais humanos, então? Por tudo que passaram, os habitantes de todos os planetas apenas humanizaram e mortalizaram o imortal. O que seria imortal, então? A própria tentativa de atingir o eterno, talvez?